segunda-feira, 8 de junho de 2009

Literatura Extra-Canônica do Movimento Cristão do I e II Séculos

Introdução:
Antes de falar sobre os escritos extra-canônicos, precisamos compreender o processo de formação do cânon bíblico (mais detalhes sobre a formação do cânon do NT confira:
http://www.formacanondont.blogspot.com/). A Bíblia (os escritos bíblicos) nasceu da vontade do povo ser fiel a Deus e a si mesmo, da vontade de transmitir aos outros essa fidelidade. A Bíblia foi escrita por um grande mutirão de escritores, formado por lideranças e comunidade. Antes que a Igreja escolhesse alguns livros como únicos que poderiam ser lidos nos cultos e como únicos testemunhos válidos a favor do Senhor, todos os livros eram entendidos como inspirados.

A seleção desses livros para compor o cânone, isto é a lista dos livros inspirados, seguiu critérios de fé. Essa seleção levou anos, séculos de muita observação e vivência da mensagem de Deus. Muitas discussões e batalhas ideológicas, tanto no seio da comunidade judaica quanto na cristã, serviram para acrescentar ou excluir este ou aquele livro. Os escritos extra-canônicos defenderam seus pensamentos sobre a divindade de Jesus. É importante lembrar que nenhum deles negou essa divindade, pelo contrário, cada grupo procurava manter fidelidade aos ensinamentos passados por Jesus, defendendo o seu ponto de vista.

Os escritos extra-canônicos podem ser atribuídos desde o século I até o século VII, os mais antigos surgiram pelos mesmos motivos e com a mesma finalidade da literatura canônica. E não há dúvidas que, no começo estavam ao lado dos escritos que foram canonizados, mas por terem sido proibidos sofreram reelaborações contínuas e mudanças, outros foram totalmente destruídos.

A Literatura extra-canônica na história e na formação do cristianismo

Século I:
Com a morte de Jesus, tradicionalmente marcada no dia 7 de abril de 33, e sua ressurreição, inicia-se uma nova fase do movimento de Jesus, agora denominado cristianismo. A fé na ressurreição de Jesus foi elemento fundamental na formação do cristianismo em comunidades de fé, em uma igreja. As mulheres têm um papel fundamental nas primeiras comunidades. Elas assumem funções de lideranças. São apóstolas, profetisas, mestras e diaconisas. Madalena e Maria mãe de Jesus são exemplos de liderança feminina nesse século. O apóstolo Paulo se refere a muitas delas assumindo esses papéis.

No I século não fica clara a idéia de diversidade, devido ao reduzido número de cristianismos, mas podemos citá-los: Cristianismo revolucionário (Jesus é compreendido como um revolucionário que lutou e convocou seus seguidores a resistirem contra o Império); Cristianismo da terceira via ou raça (nesse o cristianismo é uma terceira raça, não é judeu, nem grego); Cristianismo da sucessão apostólica (Jesus ressuscitado escolhe 12 homens dignos do apostolado); Cristianismo da fé em Jesus que salva e perdoa (Nesse a fé em Jesus salva e o conhecimento de Deus perdoa pecados).

As literaturas surgem em conseqüência da existência desses movimentos, elas não “caem do céu” ou aparecessem como num “estalo de dedos”. Toda literatura surge a partir de um movimento, de uma vivência. Os escritos que datam do I século são: As parábolas do Evangelho de Tomé, I Clemente e Pregação de Pedro. O cristianismo apócrifo do primeiro século não foi tão marcante em questões apologéticas, como foi o do segundo século em diante. A pluralidade marca o cristianismo do primeiro século.

Século II:
Na pluralidade do cristianismo emergente, um vai se tornando hegemônico, o apostólico. A defesa de um tipo de cristianismo como a única possibilidade de escolha é visível na pregação dos Padres da Igreja desse período. Na tentativa de interpretar a fé apostólica e fazer opção por uma delas, nascem vários movimentos, que serão chamados de heréticos, por pensar diferente, não aceitando a posição final. O movimento mais forte é o gnosticismo que se dividiu em vários segmentos.

O cristianismo apócrifo do século II é, sem duvida, o mais rico de todos eles. Vejamos alguns: Cristianismo da pregação dos apóstolos e sucessão apostólica (esse é o que se tornou hegemônico); Cristianismo da Simonia (Meandro renovou o movimento criado por Simão nos anos 70); Cristianismo do conhecimento em Jesus, salvador e guia (para este Cristo é o gnóstico perfeito, salvador e guia); Cristianismo judaizante dos ebionitas (nesse Jesus é humano, foi adotado por Deus e teve morte redentora);

Vale ressaltar que a lista desses cristianismos e suas literaturas é bastante extensa, portanto, nosso desejo é gerar um interesse de leitura e pesquisa a todos quantos tenham acesso a esse trabalho. Em conseqüência desses movimentos, surgem às literaturas, cada movimento vai produzindo suas literaturas. Vejamos alguns escritos do II século: Evangelho dos Hebreus, Evangelho de Matias, Evangelho de Pedro, Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria Madalena, Apocalipse de Pedro, Evangelho de Judas, Atos de João, etc.

Conclusão:
Chegamos ao final da pesquisa, mas não esgotamos o assunto. A final, não é essa a nossa intenção. Pelo contrário, esperamos que a nossa pesquisa torne-se inquietante, gerando um desejo de conhecer a literatura extra-canônica.
Vale ressaltar que não existe nenhuma intenção em tornar os escritos extra-canônicos em canônicos. A pesquisa visa apresentá-los e afirmá-los como registros de suas comunidades, relatando os conflitos de seu cotidiano.
Partindo do pressuposto que cada ponto de vista é a vista a partir de um ponto, essa pesquisa lança o desafio de olharmos para os escritos extra-canônicos de outro ponto. Ponto esse que valorize e respeite a história daqueles cristãos primitivos (homens e mulheres), que a seu modo, creram verdadeiramente em Jesus de Nazaré como o Cristo libertador.

____________________________
BIBLIOGRAFIA:
BRONW, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, Paulus: 2002.
CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento.São Leopoldo, Sinodal:2001
EHRMAN, Barth D. Cristianismos perdidos. Barcelona: Ares y Mares: 2004.
GABEL, John B. e WHEELER, Charles B. A Bíblia como literatura. São Paulo, Loyola: 1993.
FARIA, Jacir de Freitas. Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos. Petrópolis – RJ: Vozes, 2009.
FARIA, Jacir de Freitas. Apócrifos do segundo testamento. In: RIBLA – Revista de Interpretação Bíblica Latino-americana. Nº58/2007.3. Petrópolis – RJ. Editoras Vozes. Páginas de 07 a 12.
KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento. Vol. II. São Paulo, Paulus: 2005.
MORALDI, Luigi. Evangelhos Apócrifos. São Paulo, Paulus: 1999.
PROENÇA, Eduardo de. (Org). Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia. Fonte Editorial, São Paulo: 2005
VIELHAUER, Philipp. História da literatura cristã primitiva. Santo André - SP, Academia Cristã: 2005.

2 comentários:

  1. Parabéns, fiquei esperando mais informações. A página do blog ficou muito bonita. Fica na Paz
    Sérgio

    ResponderExcluir